Friday, May 28, 2010

A cadeira

O Antunes não era feliz. Tinha sempre ar de vítima, muito cinzento, queixava-se como se o mundo inteiro conspirasse para o incomodar. Um dia queixou-se da cadeira dele: velha, dura e rangia. Mas o patrão não lhe ia dar outra, certamente. "Só para me arreliar, carago!". Um dia, o Antunes caiu da cadeira e bateu com a cabeça no chão. Nunca mais foi o mesmo: até morrer, no hospício, insistia que a cadeira se tinha rido dele.